Diante do volume crescente de informações e estatísticas produzidos pelos diversos fenômenos e atividades humanas, não é de se estranhar que o jornalismo de dados tenha se tornado uma tendência incontornável nas redações mundo afora. E isso para as mais diversas mídias de distribuição de conteúdo, indo de portais da internet à TV.
Parte do sucesso de iniciativas de jornalismo de dados é explicada pela combinação entre as diretrizes éticas e técnicas que regem a prática jornalística e as melhores tecnologias, que permitem que grandes quantidades de dados sejam organizadas, decodificadas e, finalmente, transformadas em informações estruturadas. A partir disso, fica mais fácil entender o que é esse recurso, para que ele serve e como ele é feito, justamente o tema deste conteúdo.
No que consiste o jornalismo de dados?
Em linhas gerais, o jornalismo de dados é a prática que une diferentes técnicas para, a partir de um grande volume de dados, extrair narrativas e dar sentido à informação com valor público, que de outra forma, poderia ser de difícil compreensão. Assim, os profissionais responsáveis pela apuração conseguem levantar hipóteses e apontar conclusões baseadas naqueles dados, compartilhando isso com seus leitores ou telespectadores.
O crescimento do jornalismo de dados está associado à popularização de diversas tecnologias, que por tempo eram restritas a outras áreas, como a informática e a ciência da computação.
Exemplo disso são o Big Data e a popularização de diversas linguagens de programação que permitem trabalhar com dados em larga escala de forma mais fácil e ágil. Isso, no fim, ajuda a transmitir determinadas informações substituindo planilhas infinitas por gráficos bonitos e visualmente informativos, por exemplo.
Em paralelo, há a percepção de que cada vez mais órgãos públicos tendem a promover iniciativas de transparência, mantendo aberto ao público informações antes que antes eram de difícil acesso. Ainda assim, caberia ao jornalista organizar e dar sentido a esse volume imenso de informações.
Uma breve história do jornalismo de dados
O uso de dados para basear notícias e reportagens não é novo, claro. Além disso, tendências que eram novidade décadas atrás já apresentavam similares a técnicas adotadas hoje em dia. Exemplo disso é atuação do jornalismo norte-americano
Philip Mayer, responsável pela criação do que ficou conhecido como jornalismo de precisão, ainda em meados da década de 60. Para Mayer, o jornalismo deveria se aproveitar de técnicas do método científico (sobretudo daquele usado nas ciências sociais) para levantar informações, testar hipóteses e confirmar ou não conclusões de forma sempre precisa e, na medida do possível, objetiva e imparcial.
Em certa medida, o objetivo do jornalismo de precisão era se afastar de outras correntes do jornalismo como o jornalismo literário, que, ao agregar elementos da literatura à prática jornalística, abria espaço para a subjetividade do jornalista.
Com isso, muitos especialistas da área sempre reforçam que o jornalismo de dados pode ser uma tendência, mas nunca uma novidade. A principal diferença é que atualmente contamos com um número maior de ferramentas e instrumentos para trabalhar com esses dados, fazer as perguntas corretas e contribuir com narrativas interessantes, em todas as dimensões.
Como o jornalismo de dados toma forma no dia a dia das redações?
A prática do jornalismo de dados combina o uso de diferentes técnicas de apuração e análise das informações disponíveis a partir de profissionais de áreas das mais variadas, como já destacamos.
Assim, um ou mais jornalistas podem trabalhar ao lado de programadores, cientistas de dados e designers. Desse modo, torna-se possível abordar de forma multidisciplinar o que foi proposto na pauta e construir, da melhor forma possível, a reportagem desejada.
Diante da importância da programação para a construção das narrativas do jornalismo de dados, muitos profissionais da área estão se aventurando pelo aprendizado das mais diferentes linguagens.
De qualquer forma, existem várias ferramentas, até mesmo gratuitas, que podem ser utilizadas por quem não tem muita familiaridade com linhas de código ou qualquer coisa do gênero. Do mesmo modo, diversos tutoriais e manuais podem ser úteis para quem está dando os primeiros passos nesse modo de construir as notícias.
Ao mesmo tempo em que se define a aplicação das ferramentas, é preciso decidir sobre de onde serão extraídos os dados a serem utilizados na construção da notícia e de que forma ela será apresentada ao público. Aqui, quanto maior o refinamento estético, melhor. Entretanto, toda informação apresentada deve ser de fácil compreensão e ser capaz de compor uma narrativa atrativa, interessante e relevante.
Seja como for, é preciso ter sempre em mente que jornalismo de dados é, antes de qualquer coisa, jornalismo. Com isso, é preciso sempre considerar que um aglomerado de mapas, planilhas e outros aspectos visuais não é a melhor forma de contar uma história ou despertar o interesse público para determinado fato. Por outro lado, o uso bem planejado desses dados por ampliar a dimensão e compreensão de aspectos que de outra forma passariam batido.
Quais são os próximos passos dessa tendência?
Como qualquer coisa que envolva tecnologia, é muito difícil traçar quais são os próximos passos do jornalismo de dados. Além disso, é sempre preciso levar em conta que esse mercado é extremamente dinâmico e o que pode ser tendência amanhã ainda está para ser criado.
De todo modo, é possível indicar algumas perspectivas, a partir de tecnologias que já têm espaço hoje. Exemplo disso é o uso da inteligência artificial: com “cérebros eletrônicos” cada vez mais refinados e capazes de aprenderem sozinhos por meio de padrões, muitas tarefas que hoje são feitas por braços humanos, podem ser transferidas para máquinas. Isso pode ser útil para aquelas consideradas maçantes ou nas quais os humanos não são tão bons.
No mais, vale ficar de olho na introdução do ensino de técnicas de jornalismo de dados no currículo dos cursos de graduação. Com isso, a expectativa é de que novos jornalistas saiam da faculdade com noções mais aprofundadas sobre os usos possíveis dessa ferramenta, agregando possibilidades às empresas de mídia que contarem com esses profissionais no futuro.
Talvez, o grande mérito do jornalismo de dados seja unir o melhor da prática jornalística com a tecnologia. Com isso, novos horizontes podem ser explorados para melhor informar e destacar tudo aquilo que deve ser de conhecimento do público.
Por falar nisso, aproveite e veja agora 4 etapas para a produção de uma notícia e o que pode ser feito para melhorar esse processo.